XC : Crónica da Invasão da Ucrânia, à distância :
. Mendo Henriques
As coisas não estão a correr bem.
As vozes lúcidas de entre os amigos da liberdade têm de dizer como está a correr na guerra da Ucrânia, e então é assim: as coisas não estão a correr bem. É boa prática avaliar as realidades de modo honesto – apesar dos contratempos. E se não nos chocarmos com a situação presente da Ucrânia, a situação vai piorar. Na Ucrânia, na Europa e possivelmente a nível mundial.
A Ucrânia está sem munições e é forçada a recuar em várias frentes porque existem no Ocidente muitas forças que a estão a trair. A NATO e a Europa enfrentam desafios brutais que podem pôr à prova o Artigo 5.º. Existe instabilidade global porque os autocratas de todo o mundo são encorajados pela agressão descarada de Putin – externa e interna – e pelas respostas timoratas do Ocidente e países ocidentalizados. Isto não é pessimismo. Isto é um facto.
O otimismo sem bases torna-se uma forma de ilusão que desmobiliza. Como convencer os eleitorados a gastar mais com a defesa, a tomar uma posição mais forte contra a Rússia e a apoiar os países da Europa do leste se os dirigentes da Europa Ocidental não admitem que a guerra da Ucrânia é existencial para a Europa?
Precisamos de ação agora, porque amanhã poderá ser tarde demais. Precisamos de um empurrão, de um solavanco, de uma chicotada psicológica para nos acordar. A guerra vai entrar no terceiro ano, a Ucrânia está agora mais longe da vitória, o inimigo está bem vivo e o futuro europeu está em jogo.
Se fizermos os inventários dos meios, o Ocidente tem capacidade para ajudar a Ucrânia a vencer esta guerra. É também claro que o poder industrial da Federação Russa não está à altura do Ocidente unido…
Capacidade não faltam; o que falta é a vontade política e o sentimento de urgência necessários para apoiar a Ucrânia e manter a segurança coletiva. Por outro lado, Putin tem vontade de destruir a Ucrânia e restabelecer o Império. Quando começaremos a usar as plenas capacidades ocidentais para o travar?
A principal força de bloqueio Ocidental é a direita radical norte-americana e os seus interesses económicos que são uma mistura de globalismo e de isolacionismo. A aposta dos bilionários como Elon Musk em regressar aos negócios como antigamente é de uma América com mercado interno suficientemente grande para desblogbalizar. Essa criatura infame que é o ex-presidente Trump é a voz desses setores e tem uma multidão de políticos aliados moralmente corruptos em que se destaca Johnson, Speaker do Congresso, um dos funcionários mais medíocres e mais estúpidos que o Império americano já produziu.
A Europa tornou-se um livro aberto para o adversário. Putin sabe tudo sobre as linhas vermelhas de não envolvimento, sobre as divergências entre aliados, sobre a morosidade de apoio e sobre a cegueira otimista dos Europeus ainda a gozar de paz e pensões e com ilusões de um século sem volência. Não demonstramos urgência em aumentar a prontidão e o ditador aproveita-se de tudo. Até para assassinar Alexei Navalny e esconder o corpo até que desapareçam as marcas do modo como foi assassinado.
Estrategicamente, o objetivo europeu é mudar os cálculos de Putin. Perturbá-lo. Atemorizá-lo. Quebrar-lhe o sentimento de impunidade que já dura há 25 anos. Só será possível se os erros ocidentais forem admitidos e depressa. Em particular, os erros da direita isolacionista americana, tragicamente repetitivos. Quase deram a vitória aos impérios centrais em 1918 e iam dando a vitória aos nazis em 1941.
Ao aproximar-se o início do terceiro ano de guerra, o Ocidente tem de recomeçar do zero o apoio à Ucrânia soberana e livre, em vez de se congratular com o que já fez.
Amanhã é outro dia!