Artigo 2, (15 de Março 2024)
. LITERACIA FINANCEIRA / DIGITAL – ARTIGO 2
CRÉDITO À HABITAÇÃO
EURIBOR – PARTICULARIDADES – OPÇÕES A PONDERAR – MEDIDAS A TOMAR
Caro Leitor,
No seguimento do artigo inicial, vamos continuar a nossa “travessia” pela Literacia Financeira.
Como anunciado, vamos agora debruçar-nos sobre o Crédito à Habitação, suas características e especificidades, sempre com o objetivo de transmitir uma visão prática e pedagógica sobre as temáticas em análise.
Assim, e como cremos ser do conhecimento geral, um dos tópicos mais relevantes nesta matéria do Crédito à Habitação é a taxa Euribor.
De que se trata ? Tipos de taxas aplicáveis ? Alternativas disponíveis ? Impactos práticos concretos ? …
Entre outros aspetos igualmente importantes neste contexto, é o que vamos abordar de seguida, de forma detalhada, mas simultaneamente simples e prática. Pelo menos será essa a intenção …
Euribor: Afinal o que é ?
Euribor significa Euro Interbank Offered Rate. Estamos a falar da taxa de juro de referência do mercado interbancário europeu. No fundo, e de uma forma simples, é o preço ( taxa de juro ) a que os bancos europeus emprestam dinheiro entre si.
Como teremos oportunidade de analisar mais em detalhe, embora não seja definida pelo Banco Central Europeu ( BCE ), qualquer alteração nos juros que este cobre aos bancos comerciais europeus ( para lhes emprestar dinheiro ) acaba por ter natural impacto nas taxas Euribor.
Estas taxas de juro Euribor têm um impacto significativo nos sistemas de taxas de juro variável aplicados no âmbito do Crédito à Habitação.
Euribor: Que tipos de taxas de juro Euribor existem ?
Existem 5 taxas de juro Euribor:
– Uma semana / 1 mês / 3 meses / 6 meses / 12 meses
Estas taxas de juro são definidas diariamente pela Federação Europeia de Bancos.
As taxas de juro Euribor a 3, 6 e 12 meses são as mais utilizadas nos sistemas de taxas de juro variáveis vigentes no Crédito à Habitação.
Euribor: Breve enquadramento histórico e impactos colaterais
Em Setembro de 2008 as taxas Euribor atingiram os seus máximos históricos com valores a rondar os 5,5%. Foi uma época muito conturbada com graves problemas de sobre-endividamento e com a crise económica relacionada, de que todos nos lembramos, e que se arrastou até ao início da década de 2010.
Desde essa altura, as taxas Euribor tiveram um trajeto descendente que chegou a “patamares negativos” em 2016. Essa situação foi muito influenciada pela política monetária do BCE, que na sequência da crise de 2008, chegou a cobrar aos Bancos taxas de juro negativas, para que estes pudessem fomentar empréstimos a taxas de juros reduzidas, e desse modo, contribuir para a dinamização da economia.
Assim, desde 2016 e até 2022, as taxas Euribor mantiveram-se em “ terreno negativo “. Contudo nos últimos 2 anos ( desde meados de 2022 ), e em parte significativa, devido ao descontrole da inflação ( provocado por múltiplas situações, tais como, guerras, aumento do custo dos combustíveis, aumento do custo dos cereais, políticas e estratégias menos eficientes, … ), assistimos de novo a uma trajetória crescente das taxas Euribor, que tornaram a entrar em “terreno positivo“, atingindo novamente patamares elevados, na ordem dos 4%, durante o 2º semestre de 2023.
Esta realidade muito influenciada pela política monetária do BCE, que subiu de forma significativa as taxas de juro, para tentar reduzir o consumo, e de alguma forma contribuir para a estabilização da inflação, tem tido um impacto muito relevante a nível de retração da economia e dos juros dos Crédito à Habitação, o que fez disparar as mensalidades (duplicando-as, ou mais, em muitas situações), com todo o impacto “dramático” que isso tem tido na vida das pessoas e das famílias.
Agora, no início de 2024, a situação parece estar a inverter-se novamente, mas ainda de forma lenta e pouco visível. Devemos aguardar para ver. Certamente um cenário de taxas de juro negativas será difícil de voltar, mas taxas de juro mais acessíveis e, se possível, uma maior previsibilidade futura seria importante para todos.
Euribor: Que impacto tem a atualização das taxas Euribor ( a 3, 6 e 12 meses ) nos Créditos à Habitação ? Como funciona ?
Como está implícito nas suas designações, as taxas de juro Euribor ( a 3, 6 e 12 meses ) provocam uma atualização das taxas de juro variáveis, aplicáveis no âmbito do Crédito à Habitação, a cada 3, 6 ou 12 meses.
Exemplos práticos (data do contrato de crédito à habitação em fevereiro 2023):
– Com taxa Euribor a 3 meses: Taxa de juro é atualizada em fevereiro, maio, agosto e novembro de cada ano;
– Com taxa Euribor a 6 meses: Taxa de juro é atualizada em fevereiro e agosto de cada ano;
– Com taxa Euribor a 12 meses: Taxa de juro é apenas atualizada em fevereiro de cada ano.
A taxa de juro Euribor que se aplica em cada atualização, num sistema de taxas de juro variáveis ( seja a 3, 6 ou 12 meses ), corresponde à média diária relativa ao mês anterior à respetiva atualização.
Possíveis implicações nas mensalidades do Crédito à Habitação em caso de descida / subida significativa das taxas de juro Euribor:
– Prazos Euribor mais curtos ( ex. 3 meses ): Em caso de descida significativa da Euribor, pode beneficiar-se mais rapidamente desse impacto na prestação mensal, mas no cenário inverso ( subida significativa ), fica-se menos “protegido”, já que no trimestre imediatamente seguinte, a prestação pode ser atualizada de forma “ agressiva “.
– Prazos Euribor mais longos ( ex. 12 meses ): Em caso de descida significativa da Euribor, pode não beneficiar-se desse impacto com brevidade ( a atualização seguinte só ocorre na data aniversaria do Crédito à Habitação ), mas no cenário inverso ( subida significativa ), e pelo mesmo motivo, fica-se mais “protegido” de atualizações severas a curto prazo, já que até à data anual de renovação do contrato, o que pode durar muitos meses, a mensalidade manter-se-á estável.
Não existem cenários perfeitos nem soluções “mágicas“, é uma questão de ponderar os prós e os contras, o que tem muito a ver com a situação pessoal e familiar de cada um.
Crédito à Habitação: Tipos de taxas de juro aplicáveis ? Quais ? Vantagens e desvantagens ?
Os diferentes tipos de taxas de juro aplicáveis no âmbito do Crédito à Habitação são os seguintes:
a) Taxa Fixa
Vantagens:
– Certeza sobre a prestação mensal a liquidar no período em que esse sistema vigora.
– Estabilidade e proteção futura, particularmente, em cenários de crise que provoquem que aumentos significativos das taxas Euribor, como temos vivido nos últimos 2 anos.
Desvantagens:
– Taxa geralmente mais elevada que as taxas de juro variáveis em contextos de taxas de juro de mercados mais reduzidas.
b) Taxa variável
É normal aplicar-se uma das taxas de juro Euribor ( a 3, 6 ou 12 meses ).
A taxa de juro liquidada pelo Cliente geralmente corresponde a:
Euribor + Spread ( spread corresponde ao lucro do banco )
Sobre o spread, a seguir indicamos algumas indicações práticas, que consideramos úteis:
– Num cenário de taxas de juro muito reduzidas (em particular negativas, como tivemos entre 2016 e 2022), era normal e habitual existirem spreads elevados entre 1% e 1,5%. Apesar de muito elevados, a taxa de juro global ficava ainda reduzida, o que provocava mensalidades sustentáveis, facilitando a “vida” aos Bancos na negociação, aplicação desses spreads e correspondente rentabilização dos negócios. É importante estar atento e ter uma postura pró-ativa.
Caso esses níveis de spread continuem ( ou continuassem ) a ser aplicados no contexto atual ( de taxas de juro Euribor elevadas ), as prestações dos empréstimos à habitação ainda se tornariam mais insustentáveis.
– Num cenário de taxas de juro Euribor elevadas, como temos atualmente ( e não sabemos durante quanto tempo nem com que evolução ), os spreads negociados mais recentemente, quer em novos contratos quer na renegociação dos existentes, variam geralmente entre 0,5% e 0,75%. Mesmo assim, a negociação ativa de um spread competitivo revela-se fundamental para a obtenção de uma mensalidade mais justa e equilibrada.
Vantagens:
– Taxas de juro reduzidas em cenários de estabilidade financeira, como tivemos entre 2016 e 2022, com a Euribor a situar-se em “ patamares negativos “.
Desvantagens:
Forte instabilidade e insegurança, em cenários de subida significativa de taxas de juro, como ocorreu nos últimos 2 anos ( prestação pode tornar-se insustentável ).
c) Taxa mista
Corresponde a um sistema de taxa de juro fixa durante um prazo determinado ( ex. 2 / 4 anos ) seguido de um sistema de taxa de juro variável a partir desse momento.
Pode ser uma alternativa a ponderar para quem adquire habitação nesta altura ou em momentos de instabilidade, subida significativa de taxas de juro Euribor ou vigência de taxas de juro elevadas.
Garante alguma segurança, minimiza o risco e permite alguma margem temporal até que a situação estabilize em patamares mais equilibrados. Isto reforçando que não existem cenários perfeitos nem soluções mágicas e que o “ futuro a Deus pertence “…
Crédito à Habitação: Possíveis medidas (recomendações) para mitigar cenários de subida significativa de taxas de juro
Como possíveis medidas para fazer face a contextos de subida elevada de taxas de juro, apontamos:
Fixar taxa de juro
Esta operação pode ser realizada através de renegociação com o Banco atual ou transferência do crédito para outra entidade financeira.
Aplicar período de carência do capital
Dessa forma, e durante um determinado período, apenas seriam liquidados juros, o que tornaria as prestações temporariamente mais “suaves”. Mas convém ter consciência que, após esse período, a mensalidade tornará a aumentar, pelo que deve ponderar-se devidamente o risco desta operação.
Aplicar diferimento de parte do capital
Com esta medida, a mensalidade fica mais reduzida, mas atenção, a última prestação no termo do empréstimo será bastante elevada, o que poderá exigir um esforço muito significativo nesse momento. Mais uma vez será importante ponderar o risco e os prós e contras desta eventual decisão.
Aumentar prazo do crédito
Tomando esta decisão, consegue-se tornar mais acessível o valor da prestação mensal.
Contudo, deverão ter-se em consideração os limites de prazos definidos pelo Banco de Portugal em função das idades dos Clientes.
Máx. 40 (idade < 30 anos) – Máx. 37 (idade 30 – 35) – Máx. 35 (idade a partir dos 35)
Crédito à Habitação: Vários conceitos a analisar no âmbito do processo de negociação do crédito ( TAN vs TAEG )
Para se concretizar uma negociação adequada, obtendo uma proposta justa e equilibrada por parte do Banco, é importante conhecer os vários indicadores financeiros disponibilizados e conseguir interpretá-los da melhor forma. Assim, TAN e TAEG significam o seguinte:
TAN ( Taxa anual nominal )
Corresponde ao custo anual “simples” (juro) do crédito, sem as despesas obrigatórias e contrapartidas financeiras adicionais exigidas pelos Bancos.
Nos sistemas de taxas de juro variável significa Euribor ( a 3, 6 ou 12 meses ) + Spread.
TAEG ( Taxa anual efetiva global )
Trata-se do custo anual “total” que o crédito representa para o consumidor, com todas as despesas, produtos e contrapartidas financeiras contempladas ( para além dos juros propriamente ditos ). Inclui:
– Juros, impostos, comissões, comissões manutenção contas, seguros obrigatórios para os pedidos de crédito, várias despesas associadas aos processos de crédito, …
No âmbito da análise e decisão sobre um processo de crédito, ao avaliar as diferentes propostas dos Bancos, deverão comparar-se ambos os indicadores ( TAN e TAEG ). Analisar somente as TAN, como por vezes se faz, pode ser muito redutor e ilusório, devem analisar-se essencialmente as TAEG, que correspondem ao custo “total” do crédito e são, por isso, um indicador mais abrangente e consistente sobre os custos reais e totais do financiamento.
Comentários finais
Antes de terminar, pretendemos apenas relembrar vários tópicos relevantes nesta temática e fornecer também algumas “dicas” simples e práticas, que devem ser ponderadas, quando temos um processo de crédito à habitação “ em cima da mesa “ para analisar e decidir.
Taxa de juro Euribor a 3, 6 ou 12 meses: No âmbito da análise e decisão, deverão ser ponderados os diversos cenários em caso de subida / descida significativa da Euribor, e o impacto que isso provoca, em cada família, devido à oscilação das prestações.
Veja o Gráfico
Spread: Será importante ter como referência o intervalo ( 0,5% – 0,75% ), independentemente de se tentar negociar um spread ainda mais reduzido para tornar a mensalidade mais acessível.
Taxa juro fixa ( ou mista ): Pode ser um cenário interessante e equilibrado a ponderar, seja no início do processo ou em eventual renegociação, principalmente, em contextos económicos muito específicos e instáveis, como o que vivemos na atualidade.
TAN vs TAEG: Devemos analisar sempre os 2 indicadores, mas essencialmente a TAEG, pela sua maior abrangência e consistência face ao custo total do financiamento ( incluindo os juros propriamente ditos do crédito bem como todos os restantes custos associados e complementares ).
Seguros Vida Risco e Multi-riscos Habitação: Deve ponderar-se a eventual realização fora do universo bancário, que poderá ser mais favorável. Mesmo que o spread suba ligeiramente, ou que tenha de se prestar outro tipo de contrapartida, poderá compensar. É uma questão de fazer contas …
No essencial, era isto que pretendíamos apresentar, e hoje ficaremos por aqui.
Esperamos que estas simples indicações e recomendações possam ser úteis para quem tem este tema em mãos ou pensa ter nos próximos tempos.
Nos próximos artigos iremos debruçar-nos sobre os seguros Vida Risco, quer numa ótica mais abrangente de um Plano de Previdência Pessoal ou Familiar completo, quer numa ótica mais simples, essencialmente focada nos seguros ligados ao Crédito à Habitação, pela natural ligação que tem com este tema e também pelo caráter pedagógico e apoio que pretendemos prestar no momento da decisão.
EVOLUÇÃO EURIBOR A 12 MESES
Legenda ( da Euribor a 12 meses de 1999 a 2024 ):
– Máximo histórico de cerca de 5,5% em 2008 / Taxas negativas entre 2016 e 2022 / Cenário de taxas positivas novamente desde meados de 2022, com valores a rondar os 4% no 2º semestre de 2023.
– Cenário parece estar a inverter-se novamente, desde o início de 2024, mas devemos esperar para ver a evolução. Esperemos que a situação estabilize em valores mais sustentáveis, com o impacto positivo que isso poderá ter nas famílias com crédito à habitação, em particular, nos mais jovens que pretendem adquirir a sua primeira habitação.
Caro Leitor, aguarde pelas “ cenas dos próximos capítulos “. Até breve …….
LITERACIA FINANCEIRA / DIGITAL – ARTIGO 1
- Paulo Ferreira, Colunista e Correspondente na Sertã
- PERFIS DE INVESTIDOR (1 de Março 2024)
- RISCOS FINANCEIROS ASSOCIADOS AOS PRODUTOS SUBSCRITOS
Caro Leitor,
Após o anúncio ocorrido no artigo de lançamento desta iniciativa, vamos então iniciar a nossa “caminhada” pela Literacia Financeira.
Como aí referido, teremos oportunidade de abordar várias temáticas, tais como, crédito à habitação, produtos financeiros ( depósitos bancários, certificados de aforro, certificados de tesouro, … ), conceitos ( juros, fiscalidade, … ), seguros de vida, PPR, …, entre outras. Mas tal não ocorrerá já no presente artigo.
Iniciaremos estas publicações com a “identificação dos protagonistas” ( tipos de perfis de investidor ) e do “terreno” onde habitualmente se movimentam ( riscos financeiros que assumem ou estão dispostos a assumir no contexto das suas poupanças e investimentos ).
Entendemos importante e útil este enquadramento inicial, para facilitar a abordagem dos temas seguintes, e permitir uma apropriada “visualização” do posicionamento de cada investidor / aforrador, face às opções disponíveis no Mercado, no que diz respeito aos produtos financeiros, suas características, particularidades e riscos financeiros que comportam.
Antes de entrar no detalhe dos tópicos desta comunicação ( 1. Perfis de investidor / 2. Riscos financeiros ), duas notas prévias:
– Ao longo da exposição faremos algumas referências genéricas a diferentes produtos financeiros ( no essencial as que são do senso comum ), o que facilitará a explicação dos conceitos a apresentar reforçando a compreensão dos mesmos. Conforme referido, tal não impedirá a abordagem mais prática e detalhada desses produtos em artigos seguintes.
– O modelo de “ Perfis de investidor “ apresentado não é único nem científico, existem naturalmente modelos similares alternativos e com a mesma utilidade prática. Mas isso não é o mais relevante. Importante é termos algumas referências que permitam acompanhar os principais tipos de “comportamento” das pessoas neste âmbito financeiro e os seus impactos concretos ou expectáveis na vida real.
Vamos então começar por apresentar os vários tipos de perfis de investidor.
PERFIS DE INVESTIDOR
Pelo seu diferente posicionamento face aos diversos tipos de investimentos disponíveis, podemos repartir os investidores pelas seguintes categorias ( ou perfis ):
CONSERVADOR
MODERADO
DINÂMICO
. CONSERVADOR
Quais as principais características do investidor com este perfil ?
. Pretende garantia de capital ( não aceita minimamente colocar em risco o seu investimento ).
. Procura alguma rentabilidade ( mas admite que não poderá ser muito ambiciosa ).
. Dá prioridade a elevada liquidez ( caso necessite de recorrer, a qualquer momento, a estas aplicações ).
. Tem uma visão de curto prazo ( o futuro é muito distante e difícil de controlar ).
. Necessita de ter um elevado acompanhamento e controle da situação.
. Apresenta uma clara dificuldade em lidar com a incerteza.
. Possui a noção que, em termos reais, perde, por vezes, valor, já que a rentabilidade atingida, mesmo que minimamente atrativa, pode não cobrir a inflação. Tal ocorreu, por exemplo, em 2022 e 2023.
Outros tópicos relevantes a destacar no âmbito deste perfil de investidor ?
. Grande parte da população portuguesa possui este perfil de investidor.
. Em múltiplos casos existem razões históricas, culturais, familiares, …, que transmitem de forma incisiva às pessoas valores de (necessidade) de segurança, garantia, proteção, liquidez. As crises financeiras, sociais, militares, …, dos últimos anos, e a instabilidade e insegurança daí decorrentes, também têm prestado um “contributo” adicional para este sentimento abrangente.
. As suas preferências, em termos de produtos financeiros a subscrever, apontam essencialmente para depósitos bancários ( à ordem e a prazo ), certificados de aforro, certificados de tesouro, …, e alguns produtos ou seguros de poupança, desde que possuam taxa e/ou capital garantido. O papel “protetor” do Estado nestes instrumentos tranquiliza os investidores / aforradores com este perfil.
. Embora não seja obviamente exclusivo de escalões etários mais idosos, os mesmos têm alguma preponderância neste perfil. A proximidade com a data de reforma retira alguma margem ( real e psicológica ) para “aventuras financeiras”.
MODERADO
O que distingue o investidor com este perfil ?
. Tem também preferência por produtos com capital garantido.
. Admite contudo combinações (mix) com alguns investimentos de maior risco financeiro.
. Arrisca, nalgumas situações, numa ótica de médio prazo de forma a potenciar a sua rentabilidade e fazer face a naturais e temporárias oscilações de rendimento.
. Tenta, pelo menos, não perder valor real, ou seja, que a taxa de rentabilidade da sua carteira de investimentos seja, no mínimo, igual à inflação.
Outros aspetos importantes que podemos realçar no domínio deste perfil de investidor ?
. Está disponível para combinar títulos de risco reduzido ( ex. depósitos bancários, certificados de aforro, … ) com outros de maior risco financeiro ( ex. obrigações, ações, ETF`s, … ) .
. A estrutura da carteira de investimentos ( “peso” de cada componente no investimento global ) deste tipo de investidor pode depender de vários fatores:
- escalão etário do investidor ( o futuro, reforma, …, estar mais ou menos distante );
- perfil psicológico ser mais ou menos moderado, ou seja, estar mais próximo do perfil “Conservador” ou mais próximo do perfil “Dinâmico”;
- valor global dos investimentos e necessidade de constituir FE ( Fundo de Emergência ), com segurança e liquidez, para suportar X meses ( em geral 6 ou 12 ) de rendimento em caso de situações inesperadas ou inconvenientes ( desemprego, doença, despesas extra, … ). Se este FE, a que todos os cidadãos deveriam dar prioridade ( caso possuam obviamente condições para tal ), preencher grande parte do património financeiro total, a margem remanescente para alguns investimentos ponderados de maior risco e médio prazo fica claramente mais limitada. Seria uma situação a analisar caso a caso.
DINÂMICO
O que caracteriza o investidor com este perfil ?
. Procura rentabilidade superior à média do Mercado.
. Tem disponibilidade para aplicações financeiras de médio / longo prazo.
. Está preparado para assumir riscos de perdas no capital investido.
. Pretende (tem expetativa) rentabilidade real positiva a médio/longo prazo ( muito acima da inflação ).
. Não se “assusta” com oscilações temporárias do Mercado Financeiro, entende-as como normais num “ percurso de médio / longo prazo “.
. Não acompanha de forma “apertada” o seu investimento, faz monitorizações periódicas para perceber evolução, tendências e aplicar eventuais ajustamentos.
Outros aspetos a destacar ?
. Embora não seja exclusivo de escalões etários mais jovens, os mesmos terão certamente uma maior preponderância neste perfil. O futuro é ainda “muito distante” e a reforma estatal uma “miragem”.
. São pessoas, geralmente com maior literacia financeira, que:
- conhecem e acompanham o mercado financeiro ( nacional e internacional );
- fazem análises prévias dos títulos a adquirir ( empresas associadas, características, estratégia, performance, histórico de rentabilidade, … ). Isto apesar de saberem que rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras e que o risco está lá …;
- diversificam a sua carteira com títulos de médio / longo prazo, de diferentes categorias e riscos, tendencialmente de “comportamentos” inversos (pelo menos uma parte), para mitigar oscilações de Mercado em momentos mais agitados;
- geralmente, para além de um simples Fundo de Emergência (FE), aplicam o remanescente em títulos de maior risco financeiro e numa ótica de médio / longo prazo ( Obrigações, Ações, ETF`s, Aplicações Financeiras sem taxa e capital garantido, … );
- sabem, em termos de histórico ( analisando várias décadas ), que em termos médios, a rentabilidade obtida a médio / longo prazo geralmente compensa o risco assumido.
De seguida iremos então abordar os Riscos Financeiros associados aos diversos produtos:
RISCOS FINANCEIROS ASSOCIADOS AOS PRODUTOS SUBSCRITOS
Os princípios riscos financeiros, quando se investe em determinados produtos, são essencialmente os seguintes:
Risco de crédito
Risco de capital
Risco de mercado
Risco cambial
Risco de inflação
Risco de liquidez
* Risco financeiro vs Rentabilidade
O risco está para a rentabilidade como os ovos estão para as omeletes. Sem um é impossível conseguir o outro. Quanto mais se arrisca maior será a probabilidade de obter rentabilidade mais elevada.
Mas atenção, não existem certezas, a prudência pode ser boa “ conselheira “ e trata-se de uma análise e decisão muito pessoal face aos objetivos que cada um tem e à fase do ciclo de vida em que se encontra.
RISCO DE CRÉDITO
O que é ?
– Corresponde ao risco de falência ou insolvência ( incapacidade absoluta para assumir ou liquidar compromissos financeiros vencidos ) da entidade que sustenta os títulos ou junto da qual foram efetuadas as respetivas aplicações financeiras.
Exemplos práticos:
. Certificados de aforro / tesouro: Sendo títulos de dívida pública, o risco de crédito é muito reduzido, apenas se colocará em caso de falência ou insolvência extrema do Estado Português, o que significaria a sua incapacidade para assumir os compromissos financeiros vencidos.
. Depósitos bancários: O risco de crédito é igualmente muito reduzido até 100.000 € ( por Banco e depositante ), dado o Fundo de Garantia promovido pela União Europeia e patrocinado por cada estado europeu integrante ( como é o caso de Portugal ).
. Ações de empresa privada ( na prática significam uma “ quota-parte dessa entidade ): O risco de crédito existe em caso de falência ou insolvência dessa entidade.
. Obrigações de empresa privada, SAD clube de futebol, … (na prática significam “empréstimo“ dos subscritores a essa entidade ): O risco existe em caso de insolvência dessa entidade ( incapacidade para assumir os seus compromissos financeiros ).
Antes de passar ao ponto (risco) seguinte, entendemos conveniente clarificar melhor, em linhas gerais, a diferença entre falência e insolvência:
Falência: Ocorre quando o ativo (bens) de uma entidade é inferior ao passivo (dívidas). Uma entidade falida não está necessariamente insolvente ( pode eventualmente continuar a assumir de forma temporária os seus compromissos e obrigações financeiras ).
Insolvência: Ocorre quando e entidade (devedor) se encontra impossibilitada de cumprir os seus compromissos e obrigações financeiras já vencidas. Uma entidade insolvente não está necessariamente falida ( pode ter bens ou títulos que não sejam facilmente convertidos em liquidez, o que pode impossibilitar o cumprimento temporário de obrigações financeiras já vencidas ).
RISCO DE CAPITAL
O que significa ?
– Significa o risco de perda parcial ou total do valor investido na aplicação financeira por via das características e especificidades inerentes ao produto financeiro subscrito.
Exemplos práticos:
. Certificados de aforro / tesouro: Este risco não se aplica porque estes títulos garantem sempre uma taxa de juro positiva, ou seja, pelas características do produto não existe risco de perca de qualquer capital.
. Depósitos bancários: Este risco não se aplica também porque as taxas de juro são sempre positivas ( ou no mínimo zero ), pelo que tendo em conta a definição e especificidades dos depósitos bancários, o risco de perca de capital não é possível.
. Ações de empresa privada: Este risco existe e pode ser mais ou menos significativo. Em função da evolução da cotação das ações, sujeitas a constantes oscilações, os subscritores podem perder parte, ou mesmo a totalidade, do seu investimento.
. Obrigações de empresa privada: Este risco é geralmente reduzido, a maioria das obrigações garante o capital investido na maturidade (termo) dos títulos. Caso se pretenda o reembolso antecipado dos títulos a “conversa já pode ser outra”, estando sujeito ao normal de funcionamento do Mercado, como referido no risco seguinte.
RISCO DE MERCADO
O que representa?
– Representa o risco de perda ou alteração de valor na aplicação financeira devido a alterações no preço / taxas de juros / cotações títulos / …, por via do normal funcionamento do Mercado Financeiro e da “ lei da oferta e procura “.
Exemplos práticos:
. Depósitos bancários ( com taxa fixa de juro ): Este risco não existe nos depósitos bancários com taxa de juro fixa ( não está sujeito a oscilações de Mercado no período acordado em que essa taxa se aplica ).
. Depósitos bancários ( com taxa indexada à Euribor ): O risco existe, a taxa Euribor varia regularmente e pode influenciar a evolução do valor das poupanças aplicadas.
. Certificados de aforro: As séries mais recentes ( E e F ) têm taxas de juro indexadas à taxa Euribor a 3 meses. A alteração regular desta taxa influencia os juros aplicáveis a estes investimentos, pelo que o risco de Mercado existe.
. Certificados de tesouro: As séries mais recentes têm estipuladas taxas de juro fixas, pelo que o risco de Mercado não existe.
. Ações de empresa privada: Este risco existe claramente devido à oscilação natural na cotação das ações por via da “ Lei da oferta e da procura “.
. Obrigações de empresa privada: Este risco existe. Caso se pretenda o reembolso antecipado dos títulos (antes da sua maturidade), o mesmo pode depender da existência de um comprador interessado no Mercado, e caso o cenário vigente seja o de subida de taxas de juro, o valor a negociar será tendencialmente mais baixo e influenciado por esse motivo ( o valor atual de mercado dos títulos desce ).
Este Risco de Mercado, por vezes, parece “ cruzar-se “ ou confundir-se com o Risco de Crédito, mas estamos a falar de cenários diferentes. O Risco de Crédito está relacionado com situação extrema de falência ou insolvência de entidades, que pode levar à perda total ou não recuperação do investimento efetuado. Este Risco de Mercado é diferente, está ligado ao normal funcionamento do Mercado e às suas naturais oscilações ( no âmbito da lei da oferta e procura ), o que poderá provocar algumas perdas ( temporárias ou definitivas ) no valor dos investimentos efetuados.
* Quando se investe em produtos financeiros em moeda estrangeira será importante analisar e ponderar a
volatilidade histórica dessas divisas. Caso contrário, investimentos com rentabilidade aparentemente
atrativa podem tornar-se um “ pesadelo “.
RISCO CAMBIAL
De que estamos a falar ?
– Essencialmente da incerteza provocada pela evolução da cotação de uma determinada divisa (moeda) e do impacto que isso tenha num investimento efetuado nessa moeda.
Exemplo prático:
. Momento 1: Existe paridade de moedas, com equivalência monetária entre Euro ( € ) e Dólar ( $ ), ou seja, 1 $ = 1 €.
. Momento 2: Nessa altura, um investidor europeu pretende investir 1.000 € num produto financeiro cotado em dólares ( $ ). Portanto, o investimento inicial é de 1.000 $.
. Momento 3: No primeiro ano a valorização deste produto ( em $ ) foi 10%, ou seja, o valor atualizado do investimento, após um ano, traduz-se em 1.100 $.
. Momento 4: O investidor pretende agora efetuar o reembolso desse investimento e convertê-lo novamente em Euros ( € ). A paridade das moedas nesse momento é a seguinte: 1 $ = 0,9 €.
. Momento 5: Assim os 1.100 $ nessa altura representam apenas 1.100 x 0,9 € = 990 €.
Conclusões finais:
. Apesar do investimento ( em dólares ) ter valorizado 10% num ano, para o investidor europeu esta aplicação financeira traduziu-se numa perca de 1% ( 1.000 € investido vs 990 € reembolsado ).
. Antes do investimento em produtos cotados em divisas estrangeiras, convém avaliar a volatilidade histórica dessas moedas, e também a sua evolução mais recente, para se estar consciente dos riscos a correr por via desta instabilidade. Investimentos aparentemente atrativos podem tornar-se um “pesadelo”.
RISCO DE INFLAÇÃO
Que risco é este ?
– Este termo não é novo e é certamente do conhecimento generalizado. Significa o risco de redução do valor real ( ou do poder de compra ) dos montantes investidos numa aplicação financeira, e dos rendimentos por ela gerados, devido à subida de preços.
Exemplo prático ( aplicável aos Certificados de Aforro ):
. No início de 2023 vigorava a Série E com uma taxa anual de juro bruta = Euribor a 3 meses ( com um máximo de 3,5% ).
. Assim, quem investiu no início de 2023, teve durante esse ano, uma taxa anual de juro bruta de 3,5% ( após a retenção em IRS da taxa liberatória de 28%, a taxa anual de juro líquida cifrou-se em cerca de 2,5% ).
. A taxa de inflação em Portugal em 2023 foi de 4,3%.
. Portanto, apesar de se tratar de uma aplicação financeira, com uma rentabilidade aparentemente atrativa, a verdade é que o investidor / aforrador, em termos reais, perdeu cerca de 1,8% do valor do seu investimento.
A inflação é de facto um dos “ impostos mais cruéis “, de que somos vítimas, e que contribui para tornar os “ pobres cada vez mais pobres “.
Para quem investe essencialmente em produtos com segurança, liquidez, capital garantido, taxas de juro garantidas,…, convém ter consciência, que em anos de inflação mais elevada e/ou menos controlada ( como ocorreu em 2022 e 2023 ), a perca real de valor nas suas aplicações financeiras é uma realidade. É algo “cruel” mas é de facto assim…
RISCO DE LIQUIDEZ
De que se trata ?
– Do risco do investidor não ter disponível o capital investido antes do vencimento da aplicação financeira ou quando dele necessitar ou ter de suportar custos elevados para o conseguir.
Exemplos práticos:
. Depósitos bancários: O risco de liquidez é reduzido. Geralmente existe elevada liquidez ( corre-se “apenas” o risco de perder os juros correspondentes ao período decorrido desde a última atribuição de juros ).
. Certificados de aforro: O risco de liquidez é igualmente reduzido ( só nos primeiros 3 meses após cada subscrição não é viável qualquer reembolso ). A partir daí é possível o reembolso ( parcial ou total ), apenas se perdem os juros ( sobre o montante reembolsado ) desde a última atribuição trimestral de juros.
. Certificados de tesouro: O risco de liquidez é igualmente reduzido ( só no primeiro ano após cada subscrição não é viável qualquer reembolso ). A partir daí é possível o reembolso ( parcial ou total ), apenas se perdem os juros ( sobre o montante reembolsado ) desde a última atribuição anual de juros.
. Ações de empresa privada: Risco liquidez existe mas pode considerar-se reduzido / médio. O risco de liquidez é medido pela facilidade com que os títulos se transacionam no mercado acionista, onde geralmente a liquidez é elevada.
. Obrigações de empresa privada: Este risco de liquidez existe e pode ser mais ou menos significativo. Antes da maturidade (termo) dos títulos a liquidez pode depender do nível de procura no Mercado Financeiro e da existência de um potencial comprador.
E por hoje ficaremos por aqui.
Este artigo inicial é um pouco extenso, mas entendemos ser conveniente efetuar este enquadramento inicial sobre o “ mundo financeiro “, e alguns dos seus “ principais conceitos “, para facilitar depois a “ navegação “ futura pelos diversos produtos financeiros, que ainda não se iniciará no próximo artigo. De futuro, serão artigos mais sintéticos e focados, caso a caso, em temas mais específicos.
Dada a atualidade, premência e relevância do tema para muitas pessoas, de seguida vamos debruçar-nos sobre o Crédito à Habitação e os Seguros Vida Risco ( em particular os ligados ao Crédito à Habitação, com as suas especificidades ).
Caro leitor, aguarde pelas “ cenas dos próximos capítulos “. Até breve …
Uma excelente iniciativa de verdadeiro serviço público! Parabéns Paulo Ferreira. Já publiquei no meu feed do LinkedIn
Obrigado por nos ler.
Dr José de Sousa, muito obrigado pela sua atenção. Espero que tenha sido útil e interessante para si. Um abraço
Parabéns Paulo
Gostei muito
Obrigado por nos ler.
Obrigado Susana. Felicidades para si