LXXXIV – Crónica da invasão da Ucrânia – A plataforma de Alexei Navalny

Navalny

Crónica da invasão da Ucrânia LXXXIV

. A plataforma de Alexei Navalny

20 de junho de 2023

. Mendo Henriques

Alexei Navalny o principal político da oposição da Rússia após o assassinato de Boris Nemtsov em 2015, começou a ser julgado na colónia penal n.º 6 de Vladimir por “extremismo”.

Perseguido, envenenado, prisioneiro, e debilitado, nada o tem impedido de propor um futuro para a Rússia, como sucedeu nos princípios da sua plataforma política em 15 princípios.

A Plataforma Navalny

Quer a Ucrânia com as fronteiras de 1991, ou seja, com a Crimeia; o desmantelamento da ditadura de Putin; uma Assembleia Constituinte para transformar a Rússia em república parlamentar.

Considera que Putin desencadeou uma guerra injusta à qual pretende desesperadamente conferir o estatuto de “guerra nacional”, tentando sem êxito fazer dos cidadãos da Rússia seus cúmplices. A falta de voluntários, obriga-o a depender de prisioneiros e mobilizados à força.

As causas da guerra residem em problemas políticos e económicos e no desejo de Putin de manter o poder a qualquer custo, deixando um legado histórico de conquistador de território.

Apesar da morte de dezenas de milhares de ucranianos inocentes e da dor e sofrimento de dezenas de milhões de pessoas, de crimes de guerra e cidades e infraestruturas da Ucrânia destruídas, Putin está a perder.

A retórica do Kremlin mudou do “Conquistaremos Kyiv em três dias” para ameaças de usar armas nucleares. A derrota militar pode ser adiada à custa da vida de centenas de milhares, mas é inevitável. A combinação russa de “guerra + corrupção + maus generais + economia fraca” chocou contra o heroísmo, e competência dos Ucranianos. Apelos falsos e hipócritas para negociações e cessar-fogo são apenas esforços desesperados para ganhar tempo.

(5). A Ucrânia regressará às fronteiras de 1991 e a Rússia deve deixá-la em paz para se desenvolver, (6) retirando do território. (7) A Rússia terá de compensar os danos causados à Ucrânia com parte da receita da exportação de hidrocarbonetos. (8). Os crimes de guerra de Putin devem ser investigados em cooperação com instituições internacionais.

(9). A Rússia só está condenada a ser imperialista enquanto tiver um ditador no poder. (10). A Rússia é um país gigante, mas com uma população em declínio e a províncias moribundas. Tem de se concentrar a sua gente e desenvolver o que tem em abundância.

(11). O legado da guerra trará problemas à primeira vista quase insolúveis. A população terá de compreender que acabar com a guerra é o único meio de levantar as sanções, fazer retornar os que partiram, restaurar o crescimento económico.

(12). O restabelecimento das relações económicas normais com o mundo civilizado e o retorno do crescimento econômico permitirão compensar a Ucrânia.

(13). O desmantelamento do regime de Putin deverá idealmente, ser realizado através de eleições gerais livres e da convocação de uma Assembleia Constituinte.

(14). A nova república parlamentar será baseada na sucessão do poder por meio de eleições justas, um poder judicial independente, federalismo, autogoverno local, total liberdade económica e justiça social.

  1. Consciente da história e tradições, a Rússia deve fazer parte da Europa e seguir o caminho europeu do desenvolvimento. Não tem outro caminho, e não precisa de outro.

A plataforma política de fevereiro de 2022 de Navalny é muito semelhante às propostas dos partidos democráticos após a revolução de fevereiro de 1917 e da abdicação do czar Nicolau II e as expectativas de uma Assembleia Constituinte. A enorme diferença é de que o único proponente da paz então era Lenine que, contra quase tudo e quase todos, impôs a sua política após uma guerra civil sangrenta.

2023 trará convulsões na Rússia, como afirmamos nesta coluna desde Julho de 2022. Navalny é o mais destacado político da oposição que as irá enfrentar.

  • Foto Getty Imagges com a devida vénia

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