Toralba, o Albicastrense
Jean Bodin (1530-1596) é, talvez, o mais importante filósofo político francês do séc. XVI e muito conhecido por ser o criador e sistematizador do conceito de soberania e da prevalência do direito sobre a força para obter um bom governo.
Segundo uma antiga tradição, era de origem judaica peninsular.
Certo é que deu o nome Toralba (Turris Alba, ou albicastrense) ao personagem central português do Colóquio dos Sete sobre os Segredos Sublimes.
Trata-se de um dos primeiros tratados europeus sobre a tolerância religiosa, escrito na década de 1580. Circulava em manuscrito latim e em francês por toda a Europa, apenas sendo impresso em 1857.
O Colóquio dos Sete é um longo diálogo entre sete representantes das religiões históricas que debatem qual a mais verdadeira.
São eles, Coronaeus, católico veneziano e dono da casa; Frederico, luterano alemão; Curtius, calvinista francês; Octávio, italiano renegado maometano; Salomão, judeu; Senamus, humanista pagão; e enfim, Toralba, o português, cuja religião natural é o denominador comum e cuja posição se resume na afirmação “Prefiro provar de todas as religiões do que excluir a que talvez seja verdadeira” (Hep.,p.354).
É situado em Veneza, um centro de modernidade nessa época, onde se conciliam o Ocidente e o Oriente. Estamos perante um diálogo onde comparecem um Deus, duas civilizações, três línguas, quatro países, cinco religiões, sete sábios.
O personagem Toralba identifica-se como português, faz numerosas referências ao mar e à atividade piscatória da sardinha e do bacalhau (citando mesmo uma canção dos pescadores da Nazaré).
No final do livro, ele descreve o massacre de 3 mil judeus de Lisboa em 1506, mas também como o rei D. Manuel I fez justiça, mandando executar o pregador e os cabecilhas do massacre. (Hep.,p.566).
Um livro que termina com as palavras bíblicas ” Como seria bom vivermos todos como irmãos.”
- Mendo Henriques