Mendo Henriques, 13 de março de 2024
A invasão da Ucrânia como guerra colonial( XCII)
(2ª parte) Putin cederá primeiro?
Quando os nacionalistas ucranianos saíram das prisões em 1939, mercê do traiçoeiro pacto Molotov-Ribentropp, encontraram a Polónia destruída e colaboraram com a Alemanha nazi na luta contra a União Soviética. Em 1943, voltaram à clandestinidade contra os russos, mas foram esmagados em operações de contra-guerrilha e as suas famílias enviadas para o GOULAG.
Hoje, já só existem restos dessa direita radical ucraniana. Terá na Ucrânia entre 0,5% e 2,5%, de votos, uma percentagem muito menor do que na Rússia, e muito menor que os 18% do Chega, ou os 11% da AfD na Alemanha, e os Trumpistas radicais nos EUA.
É destas paragens mal frequentadas da direita radical e da esquerda incapaz de aprender, que vêm recomendações de imposições de paz. A Ucrânia é um povo soberano. Só os observadores mal informados e os idiotas úteis podem recomendar uma solução de compromisso, nomeadamente a divisão da Ucrânia, para vencer uma guerra colonial contra uma potência colonizadora.
Quem assim fala, despreza um povo em luta, e ainda não se libertou da linguagem colonial; continua a só querer ver os Europeus de leste através de Moscovo. Nós, Portugueses temos a experiência do 25 de Abril: é preciso a revolução interna para acabar com a guerra no exterior. Os russos tiveram essa experiência em 1917 e 1991. Falta-lhes agora marcar a terceira revolução na agenda de 2024 ou 2025, com a decadência de Putin.
A guerra da Ucrânia mudou o mundo porque nos obriga a repensar conceitos e geografias. Se escutarmos o que diz Moscovo, verificamos que aplica a Kyiv o mesmo tipo de insultos e preconceitos usado por parte do colonialismo português; preconceitos tragicamente mantidos nos EUA por segmentos da população branca com a encarceração de massa e supressão de voto dos negros, estes agora em revolta ativa.
Acima de tudo, a Ucrânia é um estado soberano. Se quiser negociar um acordo de paz com a Rússia, envolvendo o seu território, esse é seu direito, e é só da sua conta. Como mostra o passado colonial europeu, percebe-se que só pede a paz quem está esgotado numa guerra assimétrica. E em 2023-2024 ambos os lados do conflito souberam adotar novas formas de luta. A Ucrânia inovou com drones de ar e mar e tecnologia de satélite; a Rússia transformou as suas bombas FAB-1500 em bombas planadoras.
Os europeus não foram militarmente derrotados nas guerras coloniais do séc. 20; apenas seguiram os novos “ventos da história”.
Os Portugueses acharam que não valia a pena continuar em África; os franceses ficaram exaustos na Argélia e Indochina; a Grã-Bretanha na Índia, a Holanda na Indonésia e assim por diante. A Europa retornou a casa a fim de iniciar uma nova etapa que exigia concentrar as energias da sociedade em novas frentes e com outro moral.
A questão histórica é sobre quando chegará o momento de cedência em Moscovo. Só um certo tipo de vitória de Kyiv pode provocar essa queda do poder imperial.
Claro que se diz que a Ucrânia apenas sobrevive porque, em dois anos, terá recebido em ajudas militares e civis cerca de 84 biliões de euros da União Europeia e uns 70 biliões de dólares dos Estados Unidos; e que só isto prolonga a guerra. Em contrapartida, as potências coloniais europeias tiveram de lutar isoladas.
Sim, é importante comparar conflitos, e mesmo os casos mais recentes de Afeganistão e Síria. Mas não vale a pena comparar o incomparável. Afeganistão e Síria são aventuras neo-imperiais norte americanas.
Mesmo que fosse cortado o apoio direto ocidental aos ucranianos, eles continuariam a guerra porque estão a lutar pela existência. A noção de que podemos ligar e desligar a guerra da Ucrânia, como quem mexe num botão de computador, é um resquício da mentalidade colonialista; o ocidente não tem esse poder de fazer on/off.
Ajudar a Ucrânia a vencer é a melhor maneira para acabar com esta guerra. Deveríamos ser movidos pelo sentimento moral após vermos os +400 cadáveres de Bucha e os ++30 mil mortos de Mariupol.
O extermínio de dirigentes locais, de homens em idade militar, o rapto e russificação de mais um milhão de homens, mulheres e crianças, deveriam ser suficientes para nos mobilizar moralmente em favor da Ucrânia.
Mas para quem é surdo aos apelos morais, pense que está perante uma guerra colonial. Se por absurdo, os ucranianos capitulassem, o Kremlin continuaria o genocídio dos ucranianos e não esperaria muito até atacar outro país europeu. Rendições não é o que os nossos interesses recomendam.
Amanhã é outro dia
!
* Mendo de Castro Henriques, Colunista do Jornal de Oleiros
Uma visão muito clara e objetivo do conflito
A Ucrânia e a Europa deveria permitir a entrada de tropas no seu território não para entrar diretamente no conflito mas para fazer segurança na fronteira com a Bielorrússia e desta forma libertar as tropas da Ucrânia para afastar e ganhar terreno aos russos a sul
Obrigado por nos ler.