Como vai terminar a guerra na Ucrânia
Crónicas da Europa 2 de Outubro 2024
* Mendo de Castro Henriques
Colunista do Jornal de Oleiros
Quando já quase tudo foi contado, pesado e medido sobre os fatores em
jogo na guerra da Ucrânia o que a todos preocupa é como irá terminar a
guerra. Desde que acompanho o assunto, e como escrevi no meu livro de
2022 sobre A Invasão da Ucrânia, a única forma de a guerra da Ucrânia
terminar de vez é a população russa decidir que não vale a pena lutar pelo que
não é deles.
Essa decisão é a única forma de os povos se libertarem da canga dos
impérios, ou seja: os russos irão tomar a mesma decisão sobre a Ucrânia que
os Portugueses tomaram sobre África em 1974; os Franceses sobre a Argélia
em 1962; os Ingleses sobre a Irlanda em 1921. Com o que não é nosso, não
vale a pena perder tempo, dinheiro, e sobretudo amigos e familiares, mortos e
estropiados.
Tal como os outros impérios europeus, os russos poderão chegar a esta
conclusão de diferentes formas: ou porque perdem a guerra militarmente, o que
é pouco provável; ou porque sofrem economicamente, como já sucede; ou
porque não aguentam os números de familiares mortos e feridos – que o
Ministério da Defesa Britânico coloca em mais de 600.000. O império soviético
perdeu a guerra do Afeganistão após ter cerca de 10.000 mortos, o mesmo
número de Portugueses mortos em África.
A Ucrânia está devastada e talvez com uns 200.000 mil mortos e feridos
que se comparam tragicamente aos 600.000 russos.
Na Europa de 2024?
Como foi possível atingir estes números sinistros e desoladores? Como se
chegou a esta tragédia? Como deixámos todos isto suceder? Como é que as
democracias do Ocidente global permitiram e até encorajaram o agressor? A
resposta é a cleptocracia. Como dizem os cínicos é preciso dois para o tango e
a dança de morte do dinheiro fácil ocidental em muito ajudou a aventura de
Putin.
A guerra da Ucrânia é uma guerra de princípios entre as autocracias e
as democracias, entre opressores e livres. É uma guerra provocada entre dois
povos que eram irmãos. Para além dos motivos económicos e das explicações
pseudo-históricas, Putin lançou a guerra para mostrar que não se preocupa
com as normas do estado ético, nem se importa com a soberania das nações,
nem com o respeito das fronteiras na Europa, nem com a Convenção de
Genebra. Não quer saber do nunca mais a guerra, a fórmula que deu à Europa
quase 80 anos de paz (exceto a Jugoslávia). Como qualquer autocrata, Putin
apenas se preocupa em manter o poder e a distribuição de dinheiros que lhe
assiste.
As autocracias de todo o mundo estão a observá-lo com atenção e a
ajudá-lo nesta guerra que se tornou a sua última cartada. O Irão envia drones e
mísseis. A Coreia do Norte envia munições. A China compra petróleo e gás
baratos e ajuda a importar componentes da indústria de defesa. A Índia ajuda
na economia petrolífera. Muitos ditadores de países africanos deixam explorar
os seus recursos pelo Afrika Korps russo, ex-Wagner.
E pior e mais
E pior e mais vergonhoso, poderosas forças políticas do Ocidente global fazem o jogo das
autocracias.
As forças da direita radical nos Estados Unidos agrupadas por Trump;
governos de pequenas nações como a Hungria e a Eslováquia; partidos
políticos como os de Le Pen, Salvini e a AfD estão unidos a minar as respetivas
democracias; podem até ser eleitas por voto popular (Hitler também foi) mas a
explicação é sempre a mesma: manutenção ou conquista do poder para
assegurar a distribuição de dinheiros. A autocracia é também a marca de
governos da esquerda radical como a China ou a Venezuela ou o regime
inqualificável da Coreia do Norte.
Durante vinte anos os facilitadores políticos ocidentais ajudaram Putin a
exportar a sua corrupção. Quem viu isto acontecer, tornou-se muito cínico em
relação às democracias. Então nós falamos de Direitos Humanos, de Estado
de Direito, de Cidadania, e depois os governos deixam todo esse dinheiro
roubado e lavado fluir pelas nossas economias: compras de propriedades,
empresas, “golden visas”; clubes desportivos, como o Chelsea do luso-russo
Abramovich; media poderosos, como o Euronews comprado em 2023 por
empresários portugueses com dinheiro húngaro de Orbán.
Sem a cleptocracia dos ocidentais não haveria a agressão de Putin. Mas contra essa
cleptocracia, o exemplo dos valentes ucranianos soube empolgar o que não está podre no
Ocidente global e mais de 50 nações ajudam a Ucrânia a resistir. Até que os
russos decidam que não vale a pena lutar pelo que não é seu.
Amanhã é outro dia!
* Mendo de Castro Henriques
Uma opinião,pouco mais do que isso .Lembro- lhe que em 1835 ,os EUA invadiram o México ,tendo – se apoderado de cerca de 50%do Território Mexicano .Califórnia,Nevada,Utah,Arizona,Novo México e Texas .Hoje todo este vasto Território continua na posse dos EUA . A sua visão sobre a História Universal é um pouco deturpada ,pensava eu que em Oleiros ,já havia uma visão mais independente .Desculpe ,o seu Oleiros fica em que Distrito de Portugal?
Distrito de Castelo Branco. O artigo é do nosso conceituado colunista Professor Mendo de Castro Henriques, Desejo que ele possa responder. Saudações e obrigado por nos seguir.
A resposta para a guerra está na evolução. A história contada na Bíblia já registra a discórdia entre irmãos em Caim e Abel, onde a inveja, o ciúme e o egoísmo culminam com a morte, porém Jesus demonstrou que a morte não existe, pelo menos a morte espiritual. Ora, se o espírito permanece vivo e com ele os sentimentos, de que adianta matar o corpo? Graças a Deus, evoluímos e a idéia do dente por dente, olho por olho tende a ficar pra trás. Os frutos da semente de amor plantadas por Jesus, do pagar o mal com o bem, um dia serão colhidos, nem que seja pela consciência despertada pela Doutrina Espírita pouco mais de 200 anos, ainda pouco comparado com a vinda de Jesus, mas essa nova semente está sendo polenizada por numerosos vetores em todos os lugares, trazendo a reflexão sobre a verdade que liberta e o que aprisiona através das reencarnações sucessivas. O amor liberta através do perdão e o ódio aprisiona através da vingança. Um dia, cansado como o filho pródigo, o destino é o fim da Guerra, triunfando o Amor. Podemos aprender isso através da dor, sentindo na própria pele, ou fazer como os sábios, que aprendem pela experiência dos outros. A arma a ser desembanhada para vencer a guerra é o perdão, rendendo-se a fotça mais poderosa que existe no universo: o Amor. Façamos o que recomendou João Evangelhista, o único Apóstolo que deixou este mundo sem ser assassinado, testificando até o fim da sua existência: Amem-se uns aos outros.
Obrigado por nos ler.
Sendo professor universitário, pesquisador, filósofo e político, é triste verificar que só sobra a sua parte de político, que geralmente visa intereses pessoais. Este artigo denota um viés grave na análise da situação ucraniana, omitindo propositadamente factos relevantes como o golpe de estado de 2014, a instauração de um governo neonazista, a perseguição e guerra aos russófonos quando negaram o golpe de estado, a guerra civil que eclodiu no Dombass, os acordos de Minsk, as preocupações de segurança da Rússia que propôs um acordo alargado de segurança europeia em Dezembro de 2021, etc.
Tem razão Professor, não é essa a intenção do Director do Jornal. Em breve voltaremos ao assunto,