Obra completa do sertaginense Padre Manuel Antunes oferecida ao Papa Francisco
No contexto das Jornadas Mundiais da Juventude, que decorrem em Lisboa até 6 de agosto, o primeiro-ministro António Costa ofereceu a obra completa do Padre Manuel Antunes ao Papa Francisco, durante o encontro entre ambos na Nunciatura Apostólica, em Lisboa.
Carlos Miranda, presidente da Câmara Municipal da Sertã, congratula-se com a escolha efetuada pelo primeiro-ministro: “trata-se de uma das maiores figuras do pensamento português que nos deixou um legado único. A escolha da sua obra como oferta a Sua Santidade é algo que nos orgulha a todos”, sublinhou Carlos Miranda, referindo que é demonstrativa da importância do legado do Padre Manuel Antunes no panorama nacional. Num momento absolutamente simbólico e carregado de grande significado, o chefe do Governo português entregou ao Sumo Pontífice os doze volumes da referida coleção, onde se incluem obras como “Repensar Portugal” e “Occassionália”, além de cerca de três centenas de artigos publicados em várias revistas pelo padre jesuíta, especialista em Cultura Clássica e professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, nascido na vila da Sertã em 1918.
Recorde-se que a obra foi editada em 2006 pela Fundação Calouste Gulbenkian, com o apoio do Município da Sertã.
Professor universitário, ensaísta, crítico literário e filósofo, Manuel Antunes tornou-se num dos mais brilhantes pensadores nacionais e numa figura de relevo da cultura portuguesa. Filho de José Agostinho Antunes e de Maria de Jesus, nasceu na Sertã a 3 de novembro de 1918. Aos 13 anos ingressou no Seminário Menor da Companhia de Jesus, em Guimarães, seguindo, em 1936, para o noviciado na Companhia de Jesus, em Alpendorada (Marco de Canaveses). Ali fez a sua primeira profissão religiosa, tendo depois completado os estudos humanísticos e frequentado o Instituto Superior Beato Miguel de Carvalho (hoje Faculdade de Filosofia de Braga). Entretanto, matriculou-se na Faculdade de Teologia de Granada (Espanha), onde se formou em Teologia, tendo completado a sua formação religiosa em Namur (Bélgica).
No dia 15 de julho de 1949 recebeu a ordenação sacerdotal pelo bispo de Guadix, D. Rafael Alvarez de Lara. Lecionou no Curso Superior de Letras da Companhia de Jesus e, em 1955, rumou a Lisboa para integrar a redação da revista Brotéria, onde já colaborava e que viria a dirigir anos mais tarde (1965-1982).
Em outubro de 1957 o escritor Vitorino Nemésio, na altura diretor da Faculdade de Letras de Lisboa, convidou-o para lecionar as cadeiras de História da Cultura Clássica e História da Civilização Romana naquela instituição. As suas aulas foram seguidas por milhares de estudantes, alguns dos quais nem sequer estavam matriculados nas cadeiras que ele ministrava.
A sua produção literária era invejável. Além de dirigir a revista Brotéria (onde utilizou 126 pseudónimos, a maioria dos quais com apelidos inspirados em lugares do concelho da Sertã), colaborou com outras publicações. Na obra publicada, encontramos uma vasta lista de títulos, de onde se destacam: «Do Espírito e do Tempo» (1960) e «Repensar Portugal» (1979).
Na fase de transição que se seguiu ao 25 de abril de 1974, foi convidado a integrar o Governo com a pasta da Educação, mas recusou. Em 1981 recebeu o título de Doutor ‘Honoris Causa’ da Faculdade de Letras de Lisboa e, dois anos depois, nas comemorações do 10 de Junho, o Presidente da República Ramalho Eanes conferiu-lhe o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Faleceu a 18 de janeiro de 1985 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. No seu funeral, marcaram presença algumas das principais individualidades políticas da época, como Mário Soares, Carlos Mota Pinto e Francisco de Sousa Tavares. A Assembleia da República, em sinal de homenagem, guardou um minuto de silêncio em sua memória.
Na Sertã, além de um monumento erigido em sua memória na zona da Carvalha e de a Biblioteca local ter o seu nome, existe ainda uma rua que lhe é dedicada.
Em 2018, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique.