LXXXVI – Crónica da Invasão da Ucrânia – O sr. Jenssen e Clausewitz   ….

LXXXVI – Crónica da Invasão da Ucrânia

Mendo Henriques

. O sr. Jenssen e Clausewitz   ….

 

O Sr. Jenssen é o chefe de gabinete de Jans Stoltenberg, secretário-geral da NATO.  Clausewitz não precisa de apresentação como o primeiro, e talvez o único, filósofo da guerra, nas palavras de Bernard Brodie, criador da estratégia norte americana de dissuasão nuclear.

Em conferência de meados de Agosto, o sr. Jenssen afirmou que, em troca da adesão à NATO, a Ucrânia poderia desistir de recuperar os territórios do Donbass e Crimeia.

No dia a seguir, perante o escândalo, veio pedir desculpas do mau enquadramento da afirmação, mas não a declarou errada.

Quanto a Jans Stoltenberg, considerou que tinha havido “uma falha de comunicação”.

Do ponto de vista moral, e de quem aposta na vitória ucraniana completa – como os mais de 70% da opinião pública europeia em que me incluo – a proposta Jensen é uma estalada na cara. Contudo, tem de ser examinada friamente; a) dando-lhe um contexto; b) debatendo as possibilidades de parar a guerra por meio de um cessar-fogo e c) examinando os melhores e os piores cenários para a Ucrânia e o mundo.

A situação é peculiar porque o Ocidente está a esforçar-se de modo extraordinário para confrontar as monstruosidades de Putin. Mostrou grande capacidade em reagir à agressão de 2022; aplica sanções económicas ao governo e oligarcas russos; diminuiu significativamente os investimentos no país; deixou de comprar-lhe gás e petróleo … A Finlândia e em breve a Suécia, entram na NATO. Tudo junto, em termos políticos, constitui uma extraordinária reviravolta histórica.

Contudo, apesar da escala e do grau de compromisso demonstrados, essa escala e o compromisso tiveram uma qualidade reativa e não proativa. Europa e EUA, umas 50 nações aliadas, fizeram muito, mas ainda não fizeram tudo o que podem.

A proposta do sr. Jensen – trocar território por segurança – já existia nos corredores do poder ocidental e até pode intensificar-se; coexiste com o sentimento de que a Ucrânia tem direito a uma contra-ofensiva para recuperar Donbass e Crimeia e receber equipamentos e financiamentos.

O desfecho das guerras é incerto. E por muitos argumentos e razões emocionais que se encontrem, factos são factos, e não é por acharmos que existe um dever moral de apoiar a Ucrânia e que esta merece ser apoiada pela Europa e os EUA que vamos vencer; há muitos antecedentes históricos a mostrar que quem agiu moralmente, acabou por perder, e quem agiu mal, venceu. Os franceses desconhecem onde é Alésia.

O problema não é, aqui, de preocupação morais com o sofrimento dos ucranianos bombardeados – e devemos ser ainda mais solidários – com as deportações de crianças, com os massacres de Mariupol e Bucha ou a retórica genocida da propaganda de Putin; equacionar a malvadez russa, não é o que está em causa. O que está em jogo é outra coisa; é tentar perceber a estratégia ocidental.

A questão é que o Ocidente não tem estratégia clara e sóbria enquanto não definir o que entende pela sua própria segurança. A Europa e EUA têm de decidir objetivos; o que querem dentro de 1 ano, 5 anos, 10 anos; o que querem que aconteça na Ucrânia, Bielorrússia e territórios russos; qual é o propósito desta guerra; que finalidade pretendem. Se o fizerem, a pergunta seguinte é; que meios recomendam?

Esta tensão política entre os fins e os meios da guerra foi identificada por Clausewitz como o fulcro da guerra e da paz. A guerra do Donbass entrou em escalada brutal com a invasão de Putin em fevereiro de 2022 e cresce ou decresce conforme as vitórias de cada lado e a respetiva resiliência face aos golpes sofridos.

É o grau de clareza estratégica do Ocidente que, em grande parte, determina o grau de apoio militar à Ucrânia, em particular das armas que fazem a diferença critica no campo de batalha. Em 2018 enviámos os Javelin. Depois no verão de 2022 foram os HIMARS. Os tanques Leopard e os blindados Bradley seguiram depois de janeiro de 2023. Agora pensa-se que os F-16 chegarão em dezembro. Ainda falta enviar mais gamechangers. O grau de clareza estratégica ocidental sobre as finalidades desta guerra é que explica quando surgem os apoios militares críticos a conta gotas e para colmatar crises.

Entretanto falam pessoas como o sr. Jensen que nada diz de novo; apenas enuncia o dilema Ocidental perante a aposta corajosa da Ucrânia. A Ucrânia sustenta que pode ter uma vitória militar a curto prazo e que merece essa oportunidade. O Ocidente vai concordando e desbloqueando armamentos a conta gotas, tal como o velho da fábula, sempre com um olho no rapaz e outro no burro.

Para haver mais clareza, o Ocidente deve reconhecer que tem mais razões para recear a permanência de Putin no poder do que a sua queda. A fórmula ocidental ainda não chegou ao ponto de entender que o mundo será mais seguro sem Putin; ainda não quer aceitar que Putin é um Hitler em ponto pequeno. Irão os historiadores desta guerra dizer que o Ocidente não tem um Churchill, um Roosevelt e – enfim – um Estaline – que só aceitavam a rendição incondicional de Hitler como princípio de negociações? Os historiadores têm muita retórica. Na realidade, o Ocidente das 50 nações aliadas apoia a Ucrânia.

Amanhã é outro dia!

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