REINVENTAR PORTUGAL 2: Raízes da Cultura Ocidental – O problema filosófico-ético do povo português.

O problema essencial da filosofia humana é saber qual é o significado da vida do indivíduo e desta quando relacionada com a sociedade, e depois a vida e a razão da própria existência social coletiva. A filosofia de Platão influenciou o quadro de referência do pensamento ocidental baseando-se em duas ideias fundamentais: A primeira era a existência da realidade invisível a que chamou de “mundo verdadeiro”; e a segunda era o que chamou de “mundo que se vai tornando real” por ser a realidade visível que está constantemente em mutação. Para Platão todas as coisas visíveis eram a materialização das formas dos seus agentes invisíveis do “mundo da existência verdadeira” e das “formas”, que eram os originais de toda a existência física incluindo o significado das palavras. E o conceito da história surgiu baseado nestes conceitos filosóficos, muito pela obra de Heródoto e de Tucídides que com mestria tentaram mergulhar no abismo dos tempos antigos para entenderem a vida presente e o que fazer do futuro.

No entanto, apesar dos filósofos gregos terem apresentado o conceito da história, foi o cristianismo quem o cimentou e explicou, adiantando que a história da humanidade só é possível na proposta cristã. Ou seja, só podemos compreender a história da humanidade quando baseada em três conceitos bíblicos essenciais: (1) Que Deus é o Criador de tudo e de todos; (2) Que Ele tem um plano eterno para a humanidade; e (3) Que todos e tudo se reunirão a Ele no final da história numa simbiose existencial integrada e integrante.

Infelizmente, na Idade Média os conceitos cristãos diluíram-se demasiado com elementos do pensamento e das práticas pagãs, afetando a religiosidade, a moral, a filosofia e consequentemente a cultura dos povos europeus. E por isso enquanto indivíduos cristãos buscavam reforma e renovação espiritual do indivíduo e eclesiástica, muitos viraram-se para a restauração do pensamento greco-romano clássico numa renascença e eventual iluminismo. Procuravam-se respostas urgentes para problemas sociais prementes. E a Reforma Protestante acabou por vingar abrindo as portas ao respeito pela pessoa humana, tratando-a como indivíduo digno. Mas as portas também se abriram ao pensamento livre e os ocidentais continuaram à procura de possíveis respostas diferentes das cristãs tradicionais, e mesmo das reformadas.

No entanto, as propostas dos filósofos mais respeitados do ocidente acabaram por não serem as respostas coerentes e eficazes para as sociedades. Exemplos são as propostas “budista-europeias” – mais conhecidas como comunistas – humanistas, niilistas ou existencialistas encontradas nas obras de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), de Arthur Schopenhauer (1788-1860), de Carl Marx (1818-1883), de Friedrich Nietzsche (1844-1900), de Martin Heidegger (1889-1976), de Jean-Paul Sartre (1905-1980), de Albert Camus (1913-1960), ou de Michel Foucault (1926-1984).

A proposta do pensamento cristão original é a mais acertada para a sociedade portuguesa; crença essencial, que alteraria o paradgima de referência essencial, e fundamentaria a transformação positiva dos indivíduos e da sociedade em geral nas áreas da cultura, da filosofia moral, da ética e do comportamento. E julgo que se esta crença fosse generalizada em Portugal, ajudaria imenso a sociedade portuguesa a ponderar a sua natureza essencial como cristã, alterando-lhe positivamente os pressupostos da moral e da ética individual e coletiva. E estabeleceria novos padrões de valores, de significado, e de moral individual e coletiva, essenciais ao progresso da vida humana em sociedade, que mesmo o esforço dos humanistas iluminados não conseguiu alcançar.

Portugal precisa de soluções para a séria crise de identidade nacional e socio-económico-financeira atual. Mas a nação está muito doente devido às “toxinas” ingeridas pelos seus antepassados históricos e por si mesmos. Esses e muitos outros perigosos elementos filosóficos religiosos – alguns já muito antigos mas dúbios devido à ignorância por alguns fomentada – formaram uma cultura negativa e improdutiva na imaginação coletiva do povo português. E portanto, antes de enveredar pelos caminhos do desenvolvimento precisa de desintoxicar-se dos “venenos” mentais que lhe foram administrados por gerações sucessivas de gente “menor”, que nunca deixaram de ser arrogantemente “adolescentes”. Alexandre Herculano viu isso na sua tentativa de histórica crítica e analítica de Portugal. E a visão clara de Almeida Garrett também foi extraordinariamente profética, intelectualmente acutilante e acertadamente perspicaz na sua obra Portugal na Balança da Europa. Afirmando que Portugal perdeu muitíssimo por não se ter envolvido com as forças liberalizantes da Reforma Protestante do resto da Europa pensante. Mas é estranho que passados quase um século e meio depois de Herculano e Garrett o nosso povo tenha ainda tão poucos filósofos; ou seja, Sampaio Bruno, Leonardo Coimbra e Eduardo Lourenço. Que contraste com a Alemanha e a França por exemplo, cujas matrizes sócio-filosóficas e éticas foram profundamente alteradas, preparando os povos que aderiram a pensar por si mesmos, livremente, e aprofundadamente sobre a realidade cristã, humana e social.

Portugal precisa duma revolução profunda como a dos dias do Mestre de Avis e da Reforma apoiada por Garrett. No entanto, a questão que devemos interrogar-nos é básica: Quem és Portugal e o que permitiste que fizessem de ti, se te compararmos aos países mais desenvolvidos da Europa? És menos devido à raça? O teu ADN social está embaraçado com elementos perniciosos e caducos? Acorda. Abre os olhos. E age, renovando-te pelas raízes e não só aparente e visivelmente pelas ramas!

 

Dr. Fernando Caldeira da Silva, Correspondente na África Austral

Por Fernando Silva

 

Nota da Direcção: Publicamos hoje com enorme orgulho o Exclusivo facultado pelo Amigo e Professor Fernando Caldeira da Silva, integrando uma série que iniciámos recentemente, tendo já publicado anteriormente a parte 1 a que se segue hoje a parte 2 e mais tarde as seguintes até à conclusão.

Apesar de Exclusivo, pela importância das matérias em causa, com a concordância do Professor Fernando Caldeira da Silva, o nosso Colega “Jornal Povo de Portugal“, solicitou autorização de publicação que concedemos.

** Fernando Caldeira da Silva escreve ao abrigo do novo acôrdo ortográfico

Sobre Jornal de Oleiros

Nascemos em 25 de Setembro de 2009. Lutamos arduamente pela defesa do interior, o apoio às famílias e a inclusão social. Batemo-nos pela liberdade e independência face a qualquer poder. Somos senhores da nossa opinião.
Esta entrada foi publicada em Oleiros com as tags , . ligação permanente.