LXXXV – Crónica da Invasão da Ucrânia – O pronunciamento de Prigozhin

Crónica da Invasão da Ucrânia – LXXXV

.O pronunciamento de  Prigozhin

29 junho 2023

Mendo Henriques

Embora o termo só esteja a ser usado em publicações internacionais, é bem claro que Yevgeny Prigozhin, executou de 23 para 24 de Junho aquilo que muitos Portugueses e Espanhóis conhecem do século XIX: um pronunciamento.

E. Prigozhin

A 23 de junho, ao fim do dia, o chefe dos mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, iniciou um pronunciamento. Passando meses a acusar o ministro da Defesa, Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Gerasimov de reterem munições para o seu grupo e de má condução da guerra. Após fazer passar nas redes sociais um vídeo amador, acusando-os de mandar atacar um acampamento Wagner, iniciou o golpe.

Na madrugada de 24, os mercenários Wagner trouxeram tanques para Rostov-on-Don onde ocuparam o quartel-general do Distrito Militar do Sul e iniciaram uma “marcha pela justiça” em direção a Moscovo. Alguns milhares de homens e de veículos a deslocar-se nas autoestradas M4 incluindo tanques transportados.

Na tarde de sábado, já havia colunas “wagneritas” nas regiões de Voronezh e Lipetsk. Há indicativos seguros de que abateram sete aeronaves russas – tendo morrido 14 tripulantes – que sobrevoaram as colunas em marcha.

Pelas 17H00, veio a reviravolta. Prigozhin anunciou que os mercenários “inverteram a marcha” e regressaram aos acampamentos “de acordo com o plano”. A reviravolta sucedeu após negociações com Lukashenko, realizadas a pedido de Putin. Mais tarde, os combatentes do Wagner PMC deixaram Rostov-on-Don.

A. Lukashenko

Não houve mais  derramamento de sangue. Prigozhin voou para Minsk, encontrando-se exilado na Bielorússia.

O pronunciamento de Prigozhin durou um dia, e mostrou várias coisas. Que o rei vai nu.

Na manhã de 24, Putin discursou, chamando “traidor” a Prigozhin e falou de punhalada nas costas” e indicou que os revoltosos sofreriam pesados castigos. O FSB abriu um processo judicial. Simultaneamente, a duplicidade de Putin entrou em ação. Iniciou conversações com o ditador da Bielorússia para que este entrasse em contacto com os rebeldes, prometendo-lhe garantias de segurança e satisfação de reivindicações. Afinal eram os “heróis de Bakhmut”. Ao mesmo tempo, forças de Kadyrov avançaram sobre Rostov-no-Don.

O ditador Lukashenko na tarde de 24, convenceu Prighozin a terminar o pronunciamento. Nas negociações, o Kremlin revelou considerável capacidade política para despoletar a crise política interna mais grave de sempre da presidência de Putin. E o mundo de certo modo respirou aliviado de um cozinheiro ex-cadastrado não ter chegado ao poder das armas nucleares russas

O mais decisivo para o futuro é que os cidadãos normais russos viram que o rei vai nu. De manhã considera os rebeldes como traidores. De tarde, recua, perdoa-os e promete-lhes garantias.

Prigozhin e seu “exército” eram um projeto pessoal de Putin. Combatiam nos conflitos africanos, desde o Mali a Moçambique, na guerra da Síria e na guerra contra a Ucrânia. Em todos estes países praticaram crimes de guerra. Recrutaram dezenas de milhares de presidiários. Não se sabe que percentagem foi morta no “matadouro de Bakhmut”. Enviaram marretas a opositores, e a políticos europeus e divulgaram vídeos de execução de ex-prisioneiros com as mesmas marretas. Prigozhin conseguiu de Putin uma lei que retroativamente legalizou o recrutamento militar nas prisões mesmo para criminosos com penas elevadas. Agora só o Exército pode recrutar nas prisões.

Na manhã de 24 de junho de 2023, terminou o idílio do presidente pelo qual espera o Tribunal de Haia.

O rebelde foi para a Bielorússsia onde outro criminoso ditador o mantém.

Nos dias seguintes o Kremlin desdobrou-se em iniciativas para liquidar o grupo Wagner. Divulgou as alegadas contas dos mercenários com dotações anuais na casa dos 200 milhões de euros e indicou que seriam investigadas.

A 28 de Junho, Putin ofereceu três destinos aos Wagner na Europa : ou se integram no Exército; ou vão para a casa; ou para a Bielorússia. A 29 de Junho sabe-se que os mercenários de Wagner não lutarão mais na Ucrânia após Prigozhin se recusar a assinar contratos com o Kremlin.

Com o pronunciamento falhado, Prigozhin parece ter perdido quase tudo: financiamentos, e equipamentos. Ainda não é uma soma nula pois o seu destino na Bielorússia está por traçar.

Amanhã é outro dia!

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